segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Painel de Inspiração


Tema
O sincretismo da mineira Sara Ávila


Justificativa
A fusão de elementos presentes nas obras de Sara Ávila, o fluxo ininterrupto de imagens, estranhas, por vezes tensas; esse mundo de devaneios, lúdico, com uma atmosfera neutra, que nos seduz e intriga pela falta de referentes, e nos permite relacionar, referenciar e recriar suas obras dentro de nós leva-me a querer colocar em minha obra um pouco deste mistério. Sincretismo, isto que vejo em diversas obras de Sara Ávila, onde a artista é capaz de utilizar formas (ou não formas) fluidas e efêmeras para criar formas próprias que “se significam” (ÁVILA, p.12), que possuem movimento e fluidez, e, muitas vezes, são também concretas e estáticas; difícil de explicar, mas fácil de entender, quando em frente a uma das obras de flottage de Sara Ávila, até porque os sentimentos são individuais.

(...) diluindo (ou concentrando) as formas com coloridos fluidos (ou densos), soube liquefazer (ou petrificar) os volumes vários exigidos pela figuração, conservando ou consagrando-lhes um sentido de plasticidade (ou de labilidade – variável, instável, transitório), a fim de ir ao encontro das sutilezas de sua intuição estética fundamental. (LATERZA, 1988)

É possível sentir, em meio a tantos sentimentos, uma "mineiridade" presente na obra de Sara, seja pela personalidade que as obras possuem ou adquirem, ou até mesmo pelo “quê” neobarroco que apresentam.

Utilizando-me disso, desse sincretismo “aberto”, pretendo desenvolver uma coleção baseada nesse efeito que a artista provoca, mesclando tecidos, formas e desenhos, e fazendo com que os mesmos, por mais diferentes e distantes que possam parecer, trabalhem de forma sinérgica para criar algo único. Preocupando-me mais com a não-forma do que com a forma e seguindo impulsos interiores, entrarei na busca por uma libertação, vinda de uma espécie de terapia realizada pelas experiências em busca de efeitos e formas; terapia da qual eu só terei alta quando sentir-me realizado com o processo e a obra. E levando em consideração o tema, para que isso aconteça é preciso que a obra possa ser e seja recriada dentro de cada um que a observe, segundo o olhar individual e carregado de histórias intrínsecas de cada participante. “Diante dos trabalhos de Sara Ávila, especialmente do seu signo mais conhecido: as imagens de manchas, inspiradas nos testes de Rorschach, estamos num campo perturbador.” (SEBASTIÃO, p. 06)

Impossível saber o que acontecerá, o que será criado, e nada mais inspirador e instigador do que essa dúvida, afinal “Alguém já disse que a criatividade começa onde o conhecimento acaba.” (ÁVILA, P.47)

Lembrando que, segundo o próprio professor/ orientador Aldo Clécius em seu texto Nippo-Cangaceiro, “Reprocessar, misturar, sacudir, liquidificar, miscigenar. Nada é tão estranho que não possa ser unificado”. Assim seja.

Lucas Santi


Referências:
ÁVILA, Sara. Sara Ávila: depoimento/ [Coordenadores: Fernando Pedro da Silva, Marília Andrés Ribeiro]. Belo Horizonte: C/ Arte, 2001.

Disponível em: http://www.comartevirtual.com.br/sa-crit.htm
Acesso em: 06/09/2010.

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