segunda-feira, 13 de setembro de 2010

MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS-CULTURAIS DOS ARTUROS





“A festa começa quando você começa a sonhar,
quando os tambores começam a dar o sinal.”
Geraldo Arthur Camilo
Arthur Camilo Silvério, nascido em meados do século XIX, ainda durante a escravidão, deixou para seus descendentes as raízes firmes e profundas de uma sólida árvore familiar constituída a partir de seu casamento com Carmelinda Maria da Silva, tiveram onze filhos. A comunidade dos Arturos está situada, no município de Contagem/MG, em terreno que Arthur herdara de seu pai.
Ali, o grupo preserva e recria importantes manifestações tradicionais vinculadas á cultura negra brasileira, a Folia dos Santos Reis que acontece dia seis de janeiro, o batuque, a comemoração da abolição da escravatura que acontece na segunda semana de maio, a festa da capina denominada João do Mato que acontece no dia 15 de dezembro, principalmente, a cerimônia do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, uma manifestação do catolicismo negro popular muito difundida em Minas Gerais, popularmente conhecida por Congado, o encerramento das festividades acontece no dia 25 de dezembro, quando o rei visita os presépios das casas dos Arturos e dos bairros vizinhos. Os ‘pretinhos do Rosário’ louvam, as divindades católica, sobretudo Nossa Senhora do Rosário e os santos negros, ao mesmo tempo em que prestam honras e obrigações a seus ancestrais. Os Arturos representam hoje a grande maioria dos membros dos membros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Contagem. Embora sejam instituições distintas, a família e a irmandade, muitas vezes uma é tomada pela outra, quando o assunto é o Reinado.
Integram os rituais do Reinado dos Arturos:
# a corte real, em que se destacam os Reis Congos, autoridades detentoras do poder maior na hierarquia, representando Nossa Senhora do Rosário e a memória africana;
# o ritual do Candomblé, que são reverenciados os tambores e os antepassados, trata-se de um ritual interno conduzido pelos principais capitães, além dos três tambores tocam-se os guaiás, chocalhos de cesto;
#as guardas de Moçambique e de Congo com seus capitães e vassalos, dentre eles os dançantes e os instrumentistas, este é um evento público;
Estes grupos desempenham funções específicas e complementares, estando submetidos a uma organização hierárquica. Uma parte significativa dos quase quinhentos descendentes de Arthur participa desses grupos, desempenhando papéis variados, sendo os mais importantes ocupados pela primeira geração da família, os Arturos de primeira linha. Atualmente o patriarca é o capitão-mor Mario Braz da Luz, 72 anos, que recebe o carinho e o respeito da comunidade
As cerimônias do Reinado se cumprem através da música incessante produzida pelos vários grupos participantes, anfitriões e visitantes, que tocam e cantam músicas distintas simultaneamente, durante os três dias de duração de uma festa que acontece em Outubro, sábado, domingo e segunda-feira. O Reinado é então um contexto de vivência musical extremamente rico e complexo, pois a música é o meio organizador do tempo ritual do Congado. É através da música que as obrigações e interações espirituais, como também grande parte das relações sociais acontecem.
Os jovens da Comunidade dos Arturos criaram o grupo “Filhos de Zâmbi”, através do projeto “Criança Negra, Criança Linda” desenvolvido pela Pastoral do Negro, incentivados por Tereza de Fátima Hatem, Anaíse Fortunato e Maria Gorete Heredia, em 1991. Em 1997, por motivos diversos, o grupo interrompeu suas atividades, retornando somente em 2001 com o objetivo de divulgar os trabalhos da comunidade e a riqueza da dança afro-brasileira, valorizando a auto-estima e a herança dos ancestrais. O grupo tem se apresentado em diversos espaços culturais, escolas, seminários e participou, entre outros eventos, da Feira de Artesanato do Minas Centro, VI Encontro Mineiro de Dança, no Big Shopping, do lançamento do livro “Sons do Rosário”, no Palácio das Artes, e do Encontro Latino América Cultural, no Sesc Venda Nova. Representaram o Brasil no “Festival Internacional de Las Culturas em Resistência Ollinkan” que acontece no México.
Bibliografia: Júnia Bertolino, Júnia Bertolino é bailarina afro, jornalista (0011097/MG), antropóloga e pós-graduanda em Estudos africanos e afro-brasileiros
Cantando e Reinando com os Arturos, organizados pela comunidade Negra dos Arturos, coordenação de Glaura Lucas e José Bonifácio da Luz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário