"Não é o ângulo reto que me atrais, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein." (Oscar Niemeyer)
Um projeto modernizador, arrojado, que rompesse radicalmente com o passado colonial. As aspirações da nova república inspiraram os contornos da futura capital de Minas. Isto na virada para o séc. XX. Um novo tempo nasceria junto com uma nova cidade, combinando a solidez natural das montanhas e a rigidez humana dos edifícios; a fluídez das paisagens mineiras e a leveza de parques e alamedas.
A cidade de Belo Horizonte já nasceu transpirando contemporaneidade e ecletismo, foi inaugurada em 1897 passou a revelar motivos neoclássicos, neo-românicos e neogóticos. Aos elementos da arquitetura greco-romana foram incorporados modismos que caracterizaram a década de 20, como o primado geométrico do art-déco. A influência européia também pode ser percebida nos inúmeros espaços públicos e praças. Arquitetos franceses, mestres de obras e operários italianos representam boa parte da mão de obra que construiu a cidade.
Em 1940 o então prefeito da capital mineira Juscelino Kubitschek trouxe para a cidade o arquiteto Oscar Niemeyer nascido na cidade do Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1907, formando pela escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Com seu jeito novo de criar e suas formas diferentes foi convidado a construir o Conjunto Arquitetônico da Pampulha.
A obra projetada por Niemeyer durou de 1942 a 1944 foi projetada como um conjunto onde cada elemento é visto como uma forma independente e autônoma. Além disso, os edifícios são pensados em estreita relação com o entorno, que fornece a moldura natural e a inspiração para os desenhos e plantas. O centro do projeto, de acordo com a encomenda, deveria ser o cassino. Não é por acaso que ele é o primeiro edifício a ser construído. Do alto de uma península, o prédio do cassino é concebido a partir da alternância de volumes planos e curvos, de jogos de luz e sombra. O bloco posterior em semicírculo estabelece um contraponto em relação à ortogonalidade do salão de jogos. O rigor das retas é quebrado pela parede curva do térreo e pela marquise irregular. O sentido vertical em que estão dispostos os caixilhos, por sua vez, opõe se à horizontalidade da construção. As superfícies envidraçadas e as finas colunas que sustentam a marquise são outros elementos que dotam de leveza o conjunto. O uso do vidro - também na escadaria envidraçada que liga o restaurante ao terraço - é mobilizado em função da luz e da comunicação entre interior e exterior.
No Iate Clube e na Casa Kubitschek, Niemeyer volta a jogar com os volumes, de modo que eles pareçam, ao mesmo tempo, fundidos e individualizados. Também se nota a continuidade exterior/interior como elemento fundamental dos edifícios. A fachada em forma de proa do Iate remete às imagens náuticas popularizadas por Le Corbusier (1887 - 1966) em diversas de suas obras. A cobertura de águas invertidas, por sua vez, é vista como referência direta ao projeto do arquiteto suíço para a residência Erazuriz, no Chile, 1930. Se no Cassino e no Iate Clube a curva é utilizada como contraponto às linhas retas, na Casa de Bailes, localizada numa pequena ilha próxima à margem, a curva impera. A marquise sinuosa de concreto, cujas linhas se inspiram diretamente no contorno da ilha, torna-se a partir desse momento, um motivo central da arquitetura de Niemeyer.
A Igreja de São Francisco é considerada a obra-prima do conjunto. Nessa obra o arquiteto lança mão de nova solução construtiva: não mais a estrutura independente, com lajes de concreto apoiadas em pilares, de acordo com o léxico arquitetônico racionalista, mas uma abóbada parabólica de concreto armado, estrutura até então utilizada em obras de engenharia como o hangar de aviões do aeroporto de Orly, em Paris, de autoria de Eugène Freyssinet (1879 - 1962). Niemeyer se apropria, de uma forma cara, das construções utilitárias, ao explorar os seus rendimentos plásticos e estéticos. O uso da abóbada parabólica permite que um único elemento seja suficiente para a construção do teto e das paredes. Mas, de qualquer modo, para concentrar a atenção no mural de São Francisco, realizado por Candido Portinari (1903 - 1962), que ocupa toda a parede do fundo, ele encurta a abóbada, estreitando-a na direção do altar. O jogo de luz entre o coro iluminado e a madeira escura da nave é mais um elemento que destaca o mural. É ainda Portinari o autor da composição branca e azul de azulejos que cobre a fachada posterior da capela. O emprego das curvas e linhas oblíquas em toda a Igreja - na fachada e no interior - confere a ela um caráter assimétrico e flexível que atesta a liberdade criativa do arquiteto, envolvido com a exploração máxima das possibilidades plásticas e com as potencialidades escultóricas do concreto armado.
O Conjunto Arquitetônico da Pampulha tornou-se um marco da arquitetura moderna no Brasil e do mundo.
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